sexta-feira, 9 de maio de 2014

BRASIL 1950 - O MARACANAZO

Superfaturamentos, atrasos e mortes de operários à parte, a Copa do Mundo 2014 está aí, batendo nossa porta. Literalmente. E a partir de agora, o Futblog dos Amigos tentará focar nesse assunto, embora a dinâmica dos acontecimentos do futebol nem sempre permita isso mas meu amigo André Guerreiro tratou de mudar o astral, como pedi no post anterior...

E a nova série "Pena! Não Ganharam" tratará de seleções que tinham tudo para conquistar determinada Copa, eram os melhores times ou, no mínimo, equivalentes aos campeões, merecendo colocação superior a que tiveram e, por isso, escreveram seu nome da História das Copas, mesmo sem o título!

E não dá para começar sem o Brasil de 1950.
Barbosa (Vasco), Augusto (Vasco), Danilo (Vasco), Juvenal (Flamengo), Bauer (São Paulo) e Bigode (Fluminense). Maneca (Vasco), Zizinho (Flamengo), Ademir (Vasco), Jair da Rosa Pinto (Palmeiras) e Chico (Vasco).
Dois anos antes, o Vasco havia conquistado o primeiro Sul-Americano de Clubes no Chile, de forma invicta, quando ganhou da imprensa o apelido de "Expresso da Vitória"! E era um timaço mesmo, vencedor dos Cariocas de 47/49/50/52, além de vários torneios nacionais e internacionais. Não havia como deixar de ser a base da seleção. O São Paulo com 4 craques (Bauer, Friaça, Ruy e Noronha), Zizinho "Mestre Ziza" e Juvenal, craques do Flamengo, Jair da Rosa Pinto, um dos maiores da história do Palmeiras, Baltazar "cabecinha de ouro" e Luisinho do Corinthians e um jovem Nilton Santos do Botafogo formavam um dos mais extraordinários elencos de qualquer seleção de qualquer pais convocada para uma Copa do Mundo até hoje!
Foto da construção do Maracanã, palco da final do campeonato
O Estádio Municipal, na abertura contra o México. As obras no entorno e os andaimes à esquerda na arquibancada lembram a preparação para alguma Copa prestes a se iniciar????
Jogando em casa, no novo Estádio Municipal do Rio de Janeiro, o favoritismo do Brasil passou a ser ainda maior no momento em que fortes seleções declinaram da disputa. A Argentina boicotou devido à briga dos jogadores com o Brasil na final do Sul-Americano de 46, em Buenos Aires. Alemanha e Áustria destroçadas no Pós-Guerra. Idem para a Escócia. A Itália veio mas desfalcada de seus principais jogadores, mortos em acidente de avião em 1949, com o time do Torino, base da seleção. Além da Turquia e Índia, pela distância! Tais desistências fizeram com que o torneio, inicialmente previsto para 16 seleções em 4 grupos, ficasse com apenas 13. E o Uruguai foi o grande beneficiado. Jogou apenas contra a Bolívia dentro do seu "grupo", que previa Escócia e Índia. A goleada de 8x0 foi suficiente para colocar os uruguaios na fase final.
Ademir Menezes estufa as redes contra o México
O Brasil tinha seu grupo completo. Estreia no Municipal e goleada fácil sobre o México: 4x0! Na partida seguinte, o técnico Flávio Costa (que também era do Vasco), pressionado pela imprensa paulistana, trocou meio-time por jogadores daquela cidade, uma vez que o Pacaembu seria o estádio para a segunda partida contra a Suíça. Desentrosados, paramos no famoso "ferrolho": 2x2. Sinal amarelo!

Além de desequilibrar as quantidades de seleções por grupo, as desistências também alteraram as fases seguintes com as equipes classificadas. As tradicionais quartas-de-final, semifinais e final foram substituídas por um quadrangular final com somente o vencedor de cada grupo.

Barbosa em ação contra a Iugoslávia
Assim, o Brasil precisava vencer a Iugoslávia que havia vencido Suíça e México e, portanto, só precisava do empate para se classificar, o que eliminaria os donos da casa. De volta ao Municipal do Rio, diante de 142 mil torcedores, o Brasil marcou com Ademir logo no início mas os iugoslavos tinham excelente time comandados pelo craque Mitic e o jogo era duríssimo. Na descida aos vestiários no fim do 1o. tempo, Mitic bateu forte com a cabeça no portal de entrada do túnel. Voltou enfaixado para o 2o.tempo mas já sem o mesmo brilho. O Brasil fechou o jogo com 2x0 e a classificação garantida. Delírio na cidade maravilhosa!

Espanha derrotou Inglaterra, Chile e EUA. Suécia superou a desfalcada Itália e o Paraguai (Turquia seria a quarta). O quadrangular estava formado!

Chico detona a Suécia
No Pacaembu, Uruguai e Espanha ficaram no 2x2. No mesmo horário, o Brasil massacrava a Suécia com um espetacular 7x1, diante de 138 mil torcedores no Municipal, pulando para a liderança. Na segunda rodada, no Pacaembu, a Suécia vencia o Uruguai até os 32 minutos do 2o. tempo, por 2x1, quando permitiu a virada. E no Municipal, 152 mil pessoas cantavam "Touradas em Madri", do Braguinha, após o apoteótico placar de 6x1 para o Brasil em cima da Espanha! Bastava empatar com o Uruguai na rodada final para o título!
Ademir vence Ramallets, da Espanha: "Touradas em Madri"!
Quem poderia imaginar que isso não fosse acontecer? O Uruguai era um time de bons jogadores que formavam forte conjunto mas nenhum craque. Máspoli era excelente goleiro, Andrade, um bom lateral, o capitão Obdúlio Varela, forte e ameaçador e os rápidos atacantes Ghiggia e Schiaffino. Só!

O goleiro uruguaio Máspoli e Augusto, jogador da seleção brasileira, se abraçam após a derrota brasileira na Copa do Mundo de 1950. Rio de Janeiro, RJ. Foto: José Medeiros/Acervo IMS
Máspoli consola Augusto
A diferença técnica dos times era muito grande a favor do Brasil que, até então, havia marcado 21 gols (7 de Ademir, o artilheiro da Copa) em 5 jogos e não precisava fazer nenhum no Uruguai. Bastava não tomar! E diante de 199.854 pessoas, o Uruguai comemorou o seu Maracanazo, como a mais surpreendente final de Copa do Mundo de todos os tempos! Meu avô Rubem (um privilegiado que está assistindo de camarote as peladas de São Pedro) estava no estádio e me contava que "quando o Uruguai empatou, o estádio inteiro já sabia que perderíamos!"
Manchete da "Última Hora" em 16/07/50, o dia da Final!
As explicações para a derrota estão expressas em livros, reportagens, artigos, documentários e filmes ao longo das últimas 6 décadas, passando por supostas falhas de Barbosa, de Bigode, das ameaças de Varela a Zizinho e Ademir, da autossuficiência de todo time brasileiro, das festas antecipadas e do "oba-oba" da imprensa, da torcida, dos dirigentes e, claro, dos políticos! Eles não podiam faltar!

O "Complexo de Vira-Latas" durou 8 anos. Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos e cia. nos salvaram...

2 comentários:

  1. Pois é, agora imagine que certamente daqui a 65 anos, na Internet ou no que estiver equivalendo a ela na altura, estará um blogueiro (ou o que tiver equivalendo a isso em 2079), escrevendo sobre o 7x1 do Mineirão... Nem meu pai tinha nascido em 1950, nasceu um ano depois, mas eu sempre ouvi essa história desde quando comecei a me interessar por histórias do futebol. É como saiu num jornal, no dia seguinte ao 7x1: "Barbosa, descanse em paz".

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade Leonardo! Os 7x1 jamais serão apagados e, de uma certa forma, Barbosa foi "vingado"! Humor negro!!! Obrigado pelo comentário! Abraço

      Excluir